Há exatos 37 anos, no dia 21 de fevereiro de 1987, o advogado Evandro Cavalcanti foi assassinado com oito tiros de revólver, numa manhã de sábado na Avenida Oscar Loureiro, Cabaceira, em Surubim (distante 120 km de Recife, PE), quando seguia com a esposa e uma das filhas para uma reunião no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Na época, ele tinha 38 anos, e lutava pela desapropriação de terras em prol de posseiros na zona rural de Casinhas, atuando também no Legislativo como Vereador. Eis a motivação do crime encomendado por fazendeiros incomodados com a defesa da reforma agrária por parte do bacharel.
A morte de Evandro Cavalcanti gerou comoção geral em Surubim e em todo o país, com protestos clamando por justiça e muitas homenagens póstumas.
O enterro do advogado defensor dos trabalhadores e trabalhadoras rurais se tornou uma ato pró-reforma agrária.
O radicalismo político e ideológico vivido pelo Brasil na segunda metade dos anos 1980 era muitas vezes resolvido não com agressões verbais, mas na bala – principalmente quando dizia respeito à luta pela terra.
Na ocasião, o crime praticado por três homens, que se aproximaram em uma VW Brasília, branca. Deixou viúva, Jucilete Cavalcanti, e quatro filhos menores. No momento do crime estava acompanhado da mulher e de uma das filhas, então com 9 anos; dirigia-se para uma reunião no sindicato dos trabalhadores rurais. Ao ser chamado por um dos pistoleiros, Evandro respondeu “Diga, companheiros”, e foi imediatamente atingido pelos disparos. Um crime brutal, que chocou a cidade e repercutiu em todo o país.
Não foi o primeiro nem o último, naquele período. Dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra) contabilizaram 640 assassinatos entre 1985 e 1989, em conflitos pela terra.
Desse total, 561 foram de trabalhadores rurais. Os demais eram religiosos, lideranças e advogados, como Evandro.
Foi neste período, por exemplo, que ocorreu a morte do seringueiro Chico Mendes, no Acre, em 22 de dezembro de 1988, e do advogado Paulo Fontelles, no Pará, em 11 de junho de 1987.
A violência nunca deixou de ser a característica principal da luta pela terra. Do golpe de 1964 até 1971, o Nordeste foi a região mais atingida, fruto da tentativa de conter eventuais influências das Ligas Camponesas (1955-1964).
Em seguida, durante a década de 1970, foi a Amazônia, no rastro dos grandes projetos de colonização na região e da ascensão do movimento dos posseiros.
Na década de 1980, a redemocratização criou condições para a ampliação da pressão dos movimentos na luta pela terra, mas antes disso os conflitos já se multiplicavam.
No próprio ano de 1980, o lema da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para a Campanha da Fraternidade foi “Terra de Deus, terra de irmãos”.
A violência ocorrida em Surubim, naquele 21 de fevereiro de 1987, que fez tombar a tiros no meio da rua um cidadão acompanhado da mulher e da filha, não era um fato meramente local, mas nacional – o gemido de um país onde a luta pela justiça social deixa em seu rastro uma extensa lista de vítimas.
Na elucidação do crime e condenação dos responsáveis, apurou-se quais foram os autores (policiais militares da Paraíba) e os mandantes (proprietários de terra da região).
Fontes: Luiz Carlos Mota / Surubim News e Diário de Pernambuco.
Aqui jaz um grande advogado de Surubim: 35 anos do assassinato de Evandro Cavalcanti | Surubim News